segunda-feira, 21 de julho de 2014

Bem lá no céu... II


Quando passamos por momentos difíceis, é-nos possibilitado olhar para o céu e esquecer-nos de tudo, apenas ficar contemplando a beleza que existe na imensidão do céu. Quem já fez isso ou cotidianamente faz, com certeza sabe do que eu estou falando, sabe muito bem da paz imensa que sentimos. A contemplação é algo sagrado. Quem contempla a vida – e esta com todos os momentos – ou mesmo a natureza, é uma pessoa que compreendeu o valor da existência. Contemplar significa esquecer-nos de nós mesmos e ver além do que os nossos olhos podem ver. A contemplação nos possibilita um olhar diferenciado das dos demais seres humanos. Feliz é todo aquele que parou ou para uns 10 minutos para contemplar. Contemplar torna-se difícil porque não sabemos o que isto significa e, por isso mesmo, não adentramos nessa beleza.
O que seria, pois, a contemplação?
“O próprio Jesus nos mostrou, na conhecida história de Marta e Maria, que precisamos de ambos os pólos, da ação e contemplação (Lc 10, 38-42). Tal como Marta, devemos deitar mãos à obra onde for necessário. Devemos ser hospitaleiros para com os nossos convidados e cuidar deles. Mas também é preciso que exista em nós a Maria, que arranja tempo para se sentar simplesmente aos pés de Jesus e para ouvir o que Ele tem para lhe dizer”.[1]
Contemplar é parar um pouco. Não se contempla na correria. Quando se para alguns minutos para olhar demoradamente algo, mesmo que este olhar seja um olhar de amor e de ternura, aí se dá verdadeiramente uma contemplação. Além disso, quando aquilo que olhamos penetra em nosso coração, a contemplação se torna frutuosa. “Esperei no Senhor com toda a esperança; Ele inclinou-Se para mim e ouviu o meu clamor”, nos diz o Sl 40, 2. Contemplar é esperar no Senhor! Não qualquer espera, mas uma espera que reflete esperança e confiança.
Eu nunca me esquecerei das palavras do Padre Cláudio Sartori, ex-reitor e formador do Seminário Arquidiocesano da Paraíba Imaculada Conceição (SAPIC) – João Pessoa – PB: “Menino, você se torna aquilo que você contempla”. Há tanta coisa para se vê e se contemplar; contemplemos o verde da natureza, e nos tornaremos aquilo que o mesmo representa: “A esperança”. Uma pessoa que se torna à semelhança da esperança já tem praticamente toda a felicidade em suas mãos. Uma pessoa esperançosa tem o brilho da felicidade. Ela raramente desiste dos seus sonhos. Raramente desiste da vida. Raramente perde o sentido da vida. Repitamos o pensamento: “Esperei no Senhor com toda a esperança; Ele inclinou-Se para mim e ouviu o meu clamor” (Sl 40, 2). Contemplar o verde para nunca perdemos a esperança de uma vida melhor. Porque também temos os espinhos lado a lado conosco. A esperança se torna maior. Torna-se maior para quem ousa contemplar. Contemplar, para mim, é ter a esperança de um futuro com abundantes conquistas. A primeira conquista que se consegue na contemplação é o “eu interior”. Conquistamos a nós mesmos. Em seguida, conquistamos a própria vida. Tornamo-nos contemplativos à medida que nos entregamos por inteiro a Deus.
Há mestres espirituais que aplicam a contemplação a um dos passos para rezar com a Palavra de Deus; é a chamada “contemplatio”. Sempre acreditei que há verdade em cada silêncio feito com amor. Há verdade no silêncio de um olhar. Vejamos, então: “O quarto passo da lectio divina é a contemplatio. Significa orar sem palavras, um degustar Deus sem pensamentos, sentimentos e ideias. Contemplatio significa o puro silêncio. Para os monges, a contemplatio é sempre um dom da graça divina[2]. Que tal contemplarmos o rosto de Jesus Cristo? Ganharemos muito mais ao invés de contemplarmos a desesperança que a vida nos traz.
Raniero Cantalamessa, padre capuchinho, certa vez escreveu:
 “São Paulo escreveu que, contemplando Cristo, “somos transfigurados nesta mesma imagem, com uma glória sempre maior, pelo Senhor, que é Espírito” (2 Cor 3, 18). Ocorre o mesmo que no processo da fotografia: expondo-a à luz, fixa-se a imagem. O homem torna-se deveras aquilo que contempla”[3].
Quisera eu ser transfigurado na imagem que contemplo do Senhor crucificado! E o quanto, realmente, a nossa vida fica tal e qual àquilo que contemplamos. “Transmite aos outros o que contemplastes” (Lema dos Dominicanos). Transmitir com a vida!
Certa vez, eu ganhei uma estrela desenhada e recortada no papelão, pintada de verde, de uma pessoa que estudava comigo no Colégio Diocesano de Penedo, Alagoas. Aquela estrela, por mais simples que ela fosse, ou até pequena, ou se era verde, azul ou rosa, ela tinha um grande significado para mim. Quisera eu dizer como o poeta: “Que entre todas as estrelas, é a mais linda, a mais radiante, e a mais encantadora”. Realmente era uma estrela bonita. O seu significado, para mim, ultrapassava qualquer exterioridade. Era a estrela mais linda e charmosa. Por qual motivo? Aquela estrela foi feita com amor. Tudo o que se é feito com amor se torna belo a quaisquer belos olhos.
Não tenhamos medo de ter um pouco de sensibilidade nas palavras!
Os intelectuais se perdem nos conceitos que tomaram para si.
Os intelectuais preferem usar palavras grossas e curtas, negando-se a si mesmo e à sensibilidade que há guardada no seu coração. E é porque há muita gente adulta que o mundo carece de paz e de amor. Tenhamos um pouco da razão do filósofo e uma grande porção da sabedoria do poeta.
Qual é a estrela que você contempla no céu? Já parou para pensar nisso? Se você não contempla nenhuma estrela no céu, eu lhe pergunto: “Quem você considera uma estrela na sua vida?”. Porque estrela é tudo aquilo que tem valor. E, por isso, nós precisamos valorizá-la, contemplá-la e se encher de sua beleza.
Defendo, portanto, a ideia de contemplar o mundo com tudo o que nos rodeia, suas sombras e suas luzes, bem como contemplar Deus presente nas virtudes evangélicas (fé, esperança e caridade) e no outro que se aproxima de nós. Este outro que é diferente de nós é como uma estrela que irradia beleza na construção de nós.



[1] Anselm Grun, “O livro das Respostas”.
[2] “As fontes da espiritualidade”, Anselm Grun, p. 17.
[3] “O mistério da transfiguração”, Raniero Cantalamessa, p. 67.

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