“Estrelas” representam
algo em nossa vida.
O céu estrelado significa
muita coisa!
A ciência é um mundo a ser apaixonado.
Ouço a voz de
Einstein!
Ouço a voz de Newton!
Que diga
fundamentalmente a ciência!
“Fazer, criar, inventar exigem uma unidade de concepção, de direção e de
responsabilidade. Reconheço esta evidência”[1],
nos diz Albert Einstein. Fazemos alguma coisa todos os dias. Somos
criadores de situações. Inventamos para nos satisfazer. Queremos fugir de
nossas próprias responsabilidades. Que fazer, criar e inventar caminhem de mãos
dadas com a responsabilidade.
Nada que seja feito
se esconda do agir responsável.
Emanuel Lévinas tem
razão... “Ser responsável”.
Que significado? Que
representação? Tente descobrir. Tente encontrar as respostas dentro de você
mesmo (a). O nosso interior, por vezes, responde as nossas indagações mais
profundas sobre nós mesmos e sobre o mundo que está à nossa volta. Mas como
isso é possível? Como é possível encontrar as respostas? Olhando para a sua
história. Para a nossa história. Talvez, não simplesmente fixando o olhar na
história de seus dias, mas eu diria – decididamente – sentindo-a. Repito: “Sentir a história”.
“Afinal de contas, sentir é a maneira mais eficiente de pensar”, conta-nos Manoel Carlos, diretor de novelas, em seu livro de crônicas “A
arte de reviver”. E eu diria com minhas próprias palavras: “Sentir é mais real do que pensar”. Prefiro intuir a hierarquia de
valores. Primeiríssimo plano, o sentir
humano. Logo após, o pensamento.
Somente sentimos a
nossa história quando fazemos a nossa consciência vibrar. Isso mesmo: “Vibração”. Porque tudo aquilo que vibra
significa dizer que há energia. A energia de estar atento, acordado, esperto.
Ainda diria mais para você o fator da “vibração”:
tendo consciência de
cada segundo que passou, que passa e que ainda está por vir. Anselm Grun escreveu sobre a consciência: “Aqui a pessoa chega ao seu verdadeiro cerne. Na consciência, ela tem
uma percepção do que é a vontade de Deus ou do que é a lei natural à qual o ser
humano deve obedecer”.[2] E
aqui está o verdadeiro significado de viver nesse mundo: “Sentindo e amando a vida”. “A consciência é o centro mais secreto
e o santuário do ser humano, no qual ele se encontra a sós com Deus, cuja voz
se faz ouvir na intimidade do seu ser”[3],
nos diz o Vaticano II. Ouvindo a voz na intimidade do nosso ser, nós –
livre e conscientemente – descobrimos a vontade de Deus a nosso respeito e
podemos obedecê-lo.
Resultado da “consciência” e do “sentir a história”: uma vida bem vivida, percebendo o valor de
cada “pequena” coisa que nos aparece, aproveitando cada segundo com alegria e
amor. Assim, uma pessoa que vive conscientemente sabe agradecer a Deus pelo que
tem e pelo que se é ao invés de frustrar-se pelo que aparece. “Depende, sobretudo, de começar com
determinação”, nos diz Santa Teresa de Ávila. Determinação é a palavra
chave que norteia o estado da consciência e da sensibilidade. Determinar-se a ser mais do que ter.
Eis aqui a ideia que
queremos defender ao longo de todas as reflexões.
De fato, filósofos e
artistas diversos investigaram acerca dos sentidos, das sensações e dos
sentimentos que perpassam a história do ser humano.
“A
sensibilidade é uma categoria do conhecimento e uma categoria política. Ela é a
base, a vida de acesso ao mundo externo ao nosso corpo, o modo como se
estabelece nossa relação com as coisas, justamente por ser um modo como
experimentamos nosso corpo e os demais corpos. É o modo como olhamos para as
coisas, como ouvimos, mas também como as pensamos. O que melhor resume a
sensibilidade é que ela é uma capacidade de ter atenção às coisas, o modo como
nos dispomos ao que não somos e não conhecemos”[4].
O
conceito acima da escritora nos acorda ao significado de uma vida vivida conscientemente pautada da
sensibilidade. No pensar dos
filósofos (Leibniz, Hume e Condillac), “a
sensibilidade surge como o lugar da constituição e já não como marca da
fragilidade e da falibilidade do homem, mas como sinal da relação do homem com
o mundo”.[5]
Daí que a palavra sensibilidade, para
quaisquer conceitos, referir-se-á sempre a uma relação direta do homem para com
as coisas que o rodeia.
Augusto
Branco, poeta rondoniense, é brilhante poeta num poema simples a respeito das
estrelas do céu:
Todas as noites eu olho para o Céu. para admirar minha
Estrela,
que entre todas as estrelas é a mais Linda, a mais Radiante, e a mais Encantadora. E, por
apaixonado que eu seja, dedico à ela todos os meus sentimentos
poesias e canções e sempre adormeço com ela em meus pensamentos,
mesmo sabendo que eu não ocupo os seus pensamentos,
mesmo sabendo que ela não brilha pra mim.
poesias e canções e sempre adormeço com ela em meus pensamentos,
mesmo sabendo que eu não ocupo os seus pensamentos,
mesmo sabendo que ela não brilha pra mim.
Estrela é um fenômeno do mundo.
Porque falar de
“Estrelas”? Uma resposta muito simples: é um tema bíblico e, também, mergulha
no mundo literário. Um teólogo intelectual começaria um texto a partir de um
conceito renomado sobre a fé ou sobre uma palavra difícil que se encontra nos
dicionários da vida acadêmica. Um teólogo simples começaria a partir de “coisas insignificantes” desta vida e
tentaria penetrar nos segredos mais profundos do mistério de Deus, que abarcam
a dimensão antropológica e sociológica do mundo.
O céu estrelado significa
muita coisa!
Que digam os
cientistas!
Que digam os poetas!
Que digam os
apaixonados pela criação de Deus!
Que digam os
teólogos!
Quando passamos por
momentos difíceis, é-nos possibilitado olhar para o céu e esquecer-nos de tudo,
apenas ficar contemplando a beleza que existe na imensidão do céu. Quem já fez
isso ou cotidianamente faz, com certeza sabe do que eu estou falando, sabe
muito bem da paz imensa que sentimos. A contemplação é algo sagrado. Quem
contempla a vida – e esta com todos os momentos – ou mesmo a natureza, é uma
pessoa que compreendeu o valor da existência. Contemplar significa esquecer-nos
de nós mesmos e ver além do que os nossos olhos podem ver. A contemplação nos
possibilita um olhar diferenciado das dos demais seres humanos. Feliz é todo
aquele que parou ou para uns 10 minutos para contemplar. Contemplar torna-se
difícil porque não sabemos o que isto significa e, por isso mesmo, não
adentramos nessa beleza.
O
que seria, pois, a contemplação?
“O
próprio Jesus nos mostrou, na conhecida história de Marta e Maria, que
precisamos de ambos os pólos, da ação e contemplação (Lc 10, 38-42). Tal como
Marta, devemos deitar mãos à obra onde for necessário. Devemos ser
hospitaleiros para com os nossos convidados e cuidar deles. Mas também é
preciso que exista em nós a Maria, que arranja tempo para se sentar
simplesmente aos pés de Jesus e para ouvir o que Ele tem para lhe dizer”.[6]
Contemplar
é parar um pouco. Não se contempla na correria. Quando se para alguns minutos
para olhar demoradamente algo, mesmo que este olhar seja um olhar de amor e de
ternura, aí se dá verdadeiramente uma contemplação. Além disso, quando aquilo
que olhamos penetra em nosso coração, a contemplação se torna frutuosa. “Esperei no Senhor com toda a esperança; Ele
inclinou-Se para mim e ouviu o meu clamor”, nos diz o Sl 40, 2. Contemplar
é esperar no Senhor! Não qualquer espera, mas uma espera que reflete esperança
e confiança.
Eu
nunca me esquecerei das palavras do Padre Cláudio Sartori, ex-reitor e
formador do Seminário Arquidiocesano da Paraíba Imaculada Conceição (SAPIC) –
João Pessoa – PB: “Menino, você se torna aquilo que você contempla”. Há tanta coisa para se vê e se contemplar; contemplemos o verde da
natureza, e nos tornaremos aquilo que o mesmo representa: “A esperança”. Uma pessoa que se torna à semelhança da esperança já tem praticamente
toda a felicidade em suas mãos. Uma pessoa esperançosa tem o brilho da
felicidade. Ela raramente desiste dos seus sonhos. Raramente desiste da vida.
Raramente perde o sentido da vida. Repitamos o pensamento: “Esperei no Senhor
com toda a esperança; Ele inclinou-Se para mim e ouviu o meu clamor” (Sl 40, 2). Contemplar o verde para nunca perdemos
a esperança de uma vida melhor. Porque também temos os espinhos lado a lado
conosco. A esperança se torna maior. Torna-se maior para quem ousa contemplar.
Contemplar, para mim, é ter a esperança de um futuro com abundantes conquistas.
A primeira conquista que se consegue na contemplação é o “eu interior”. Conquistamos a nós mesmos. Em seguida, conquistamos
a própria vida. Tornamo-nos contemplativos à medida que nos entregamos por
inteiro a Deus.
Há mestres
espirituais que aplicam a contemplação a
um dos passos para rezar com a Palavra de Deus; é a chamada “contemplatio”. Sempre acreditei que há
verdade em cada silêncio feito com amor. Há verdade no silêncio de um olhar.
Vejamos, então: “O quarto passo da lectio
divina é a contemplatio. Significa orar sem palavras, um degustar Deus sem
pensamentos, sentimentos e ideias. Contemplatio significa o puro silêncio. Para
os monges, a contemplatio é sempre um dom da graça divina[7].
Que tal contemplarmos o rosto de Jesus Cristo? Ganharemos muito mais ao
invés de contemplarmos a desesperança que a vida nos traz.
Raniero Cantalamessa,
padre capuchinho, certa vez escreveu:
“São Paulo escreveu que, contemplando Cristo,
“somos transfigurados nesta mesma imagem, com uma glória sempre maior, pelo
Senhor, que é Espírito” (2 Cor 3, 18). Ocorre o mesmo que no processo da
fotografia: expondo-a à luz, fixa-se a imagem. O homem torna-se deveras aquilo
que contempla”[8].
Quisera eu ser transfigurado
na imagem que contemplo do Senhor crucificado! E o quanto, realmente, a nossa
vida fica tal e qual àquilo que contemplamos. “Transmite aos outros o que contemplastes” (Lema dos Dominicanos).
Transmitir com a vida!
Certa vez, eu ganhei
uma estrela desenhada e recortada no papelão, pintada de verde, de uma pessoa
que estudava comigo no Colégio Diocesano de Penedo, Alagoas. Aquela estrela,
por mais simples que ela fosse, ou até pequena, ou se era verde, azul ou rosa,
ela tinha um grande significado para mim. Quisera eu dizer como o poeta: “Que entre todas as estrelas, é a
mais linda, a mais radiante, e a mais encantadora”. Realmente era uma estrela bonita. O seu
significado, para mim, ultrapassava qualquer exterioridade. Era a estrela mais
linda e charmosa. Por qual motivo? Aquela estrela foi feita com amor. Tudo o
que se é feito com amor se torna belo a quaisquer belos olhos.
Não tenhamos medo de ter um pouco de sensibilidade nas
palavras!
Os intelectuais se
perdem nos conceitos que tomaram para
si.
Os intelectuais
preferem usar palavras grossas e curtas, negando-se a si mesmo e à
sensibilidade que há guardada no seu coração. E é porque há muita gente adulta
que o mundo carece de paz e de amor. Tenhamos um pouco da razão do filósofo e uma grande porção da sabedoria do poeta.
Qual é a estrela que
você contempla no céu? Já parou para pensar nisso? Se você não contempla
nenhuma estrela no céu, eu lhe pergunto: “Quem você considera uma estrela na sua vida?”. Porque estrela é tudo aquilo que tem valor. E, por isso, nós
precisamos valorizá-la, contemplá-la e se encher de sua beleza.
Defendo, portanto, a
ideia de contemplar o mundo com tudo o que nos arrodeia, suas sombras e suas
luzes, bem como contemplar Deus presente nas virtudes evangélicas (fé,
esperança e caridade) e no outro que
se aproxima de nós. Este outro que é
diferente de nós é como uma estrela
que irradia beleza na construção de nós.
[1]
“Como vejo o mundo”, Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1981.
[2]
“O livro das respostas”, p. 178, Anselm Grun.
[4]
Artigo de Marcia Tiburi
[5]
Sensibilidade (filosofia). In infopédia (Em linha). Porto: Porto Editora,
2003-2014. (Consult. 2014-05-09)
[6]
Anselm Grun, “O livro das Respostas”.
[7]
“As fontes da espiritualidade”, Anselm Grun, p. 17.
[8]
“O mistério da transfiguração”, Raniero Cantalamessa, p. 67.
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